quinta-feira, 7 de junho de 2012

Paulo Freire: muito além da técnica em educação



Paulo Freire trouxe a esperança – mais precisamente a Pedagogia da Esperança – de um mundo melhor, idealizado na maneira como encarava a Educação do povo.

Sua contribuição como educador ultrapassou a barreira do ABC aprendido nas cartilhas e transformou a educação, encarada por ele como obrigação política do Estado, em ato de inserção social igualando classes, raças, sexos e idades.

Nascido Paulo Reglus Neves Freire, em 19 de setembro de 1921, o caçula de quatro irmãos, desde cedo manifestou uma tendência a tornar as palavras objeto especial.

Foi alfabetizado por seus pais e aprendeu as primeiras palavras escrevendo com gravetos no chão do quintal de sua casa em Recife (PE).

A família mudou-se para Jabotão – 18 quilômetros distante de Recife. Perdeu o pai com 13 anos e sofreu duplamente vendo a responsabilidade da mãe para sustentar quatro filhos e a si mesma.

As dificuldades fizeram o amor e afeto aumentarem na família e o fez crescer e amadurecer rapidamente.


O aprendizado que se seguiu foi o da tolerância e do limite, mas a cidade de Jabotão contribuiu muito para que ele não deixasse a fase se transformar em uma época pesada – na cidade aprendeu a ser menino e moleque harmonizando as forças.

E mais importante: aprendeu e tomou gosto, nessa época, pelos estudos das sintaxes populares e língua portuguesa.

Desde a primeira professora, D. Eunice, aprendeu a não decorar regras o que o fez estudar com muito mais prazer.

Fez os cursos fundamental e pré-jurídico no Colégio Oswaldo Cruz, em Recife, e ingressou aos 22 anos na Faculdade de Direito de Recife.

Em 1944, aos 23 anos casou-se com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira com quem teve cinco filhos. Nessa época começou a lecionar Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz.

Mais tarde, ocupou os cargos de diretor e superintendente do setor de Educação e Cultura do Sesi, órgão recém-criado pela Confederação Nacional da Indústria, onde iniciou o contato com a educação para adultos/trabalhadores.


Fundou nos anos 1950 o Instituto Capibaribe, instituição de ensino privado conhecida até hoje em Recife pelo seu alto nível de ensino e de formação científica, ética e moral voltada para a consciência democrática.

Foi membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife, e alguns anos depois, foi designado para o cargo de Diretor da Divisão de Cultura e Recreação do Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife.

Passou a lecionar no nível superior e obteve o título de Doutor em Filosofia e História da Educação, defendendo a tese “Educação e atualidade brasileira”.

Participou do grupo “Conselheiros Pioneiros”, expressão com a qual os próprios integrantes se autodenominaram, escolhido pelo governador Miguel Arraes que apresentava o grupo como “pessoas de notório saber e experiência em matéria de educação e cultura do estado pernambucano”.

Esse grupo foi destituído com o golpe de 1964.

Nessa época, Freire já mostrava envolvimento com uma educação peculiar que partia do saber popular, da linguagem popular, da necessidade popular, respeitando o concreto, o cotidiano e as limitações do povo.

Além disso, apresentava propostas de superação deste mundo de submissão, de silêncio e de misérias a que esse mesmo povo era submetido, apontando para um mundo de possibilidades.

Em 1963, ensinou 300 adultos a ler e escrever em 45 dias. 

Estava aí começando a ganhar nome o “Método Paulo Freire”.

Ainda muito utilizado, com algumas adaptações, nos dias de hoje em todo o mundo, o Método é baseado em um “convite” ao alfabetizando adulto para que ele se veja enquanto homem vivendo e produzindo em determinada sociedade.


Quê? Por quê? Como? Para quê? Por quem? Para quem? Contra quê? Contra quem? A favor de quem? A favor de quê? – são perguntas que provocam os alfabetizandos em torno da substantividade das coisas, da razão de ser delas, de suas finalidades, do modo como se fazem etc.

As atividades de alfabetização exigem a pesquisa do que Freire chamava “universo vocabular mínimo” entre os alfabetizandos. E trabalhando esse universo se escolhem as palavras que farão parte do programa.

Essas palavras, mais ou menos dezessete, chamadas “palavras geradoras”, devem ser palavras de grande riqueza fonêmica e colocadas, necessariamente, em ordem crescente das menores para as maiores dificuldades fonéticas, lidas dentro do contexto mais amplo da vida dos alfabetizandos e da linguagem local, que por isso mesmo é também nacional.

No momento em que o alfabetizando consegue, articulando as sílabas, formar palavras, ele está alfabetizado. O processo requer, evidentemente, aprofundamento, ou seja, a pós-alfabetização.

O trabalho de Paulo Freire é mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como centro de suas preocupações a sua natureza política.


Paulo Freire esteve no exílio por quase dezesseis anos – de 1964 a 1969 no Chile; de 1969 a 1970 em Cambrigde, dando aula na Universidade de Havard e, de 1970 a 1979, em Genebra onde foi professor na universidade – exatamente porque compreendeu a educação dessa maneira peculiar e lutou para que um grande número de brasileiros tivesse acesso a esse bem a eles negado secularmente.

Depois de passar 16 anos “andarilhando” pelo mundo voltou ao Brasil em 1979 quando foi assinada a Anistia. Foi recebido com enorme festa. Mas seu retorno de fato aconteceu em 1980. Ainda sentia-se frustrado por não poder voltar ao seu Recife, mas sentiu na volta que poderia “re-aprender meu país”.

Tornou-se professor da Unicamp, nesse mesmo ano, por pressão de alunos e professores, onde permaneceu até 1990. “Por ato de sana injustiça há tanto tempo praticada” foi aposentado pelo governo federal, em 1991.

Após a morte de sua primeira mulher ficou muito abatido só conseguindo retornar “a vida” quando casou-se novamente com Nita (Ana Maria Araújo Freire), chamada carinhosamente assim por Freire, que a conhecia desde a infância.

Uma nova jornada de conquistas vem com essa outra fase de sua vida e assim torna-se Secretário de Educação do Município de São Paulo, no governo Luiza Erundina, do Partido dos Trabalhadores que havia ajudado a formar.

Após abandonar a carreira política e acadêmica voltou a praticar aquilo que mais o satisfazia: escrever. Recebeu, ao longo desse enorme tempo de dedicação ao aprendizado, inúmeros prêmios e homenagens, nacionais e internacionais.

Foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, e, mais importante para ele, escolas do mundo inteiro receberam seu nome como batismo.

Faleceu em 1997, em São Paulo, dois anos depois de ganhar um presente que sempre desejou: uma bola de futebol de couro.

Conhecido por muitos, Freire não deixará que esqueçamos de suas características marcantes: traços seguros e ao mesmo tempo ternos e comunicativos.

Paulo Freire gostaria de ter sido um cantor famoso, mas foi, mundialmente reconhecido, um dos maiores educadores do século XX.

Endereços para conhecer melhor o “Método Paulo Freire”:
                             
http://www.paulofreire.org.br
http://maxpages.com/elias/Artigo_sobre_Paulo_Freire
http://www.paulofreire.org/metodo.htm

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