quinta-feira, 8 de março de 2012

Como comecei a escrever


Por Rubem Braga

Já contei em uma crônica a primeira vez que vi meu nome em letra de forma: foi no jornalzinho “O ltapemirim”, órgão oficial do Grêmio Domingos Martins, dos alunos do colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim.

O professor de Português passara uma composição “A Lágrima” – e meu trabalho foi julgado tão bom que mereceu a honra de ser publicado.

Eu ainda estava no curso secundário quando um de meus irmãos mais velhos, Armando, fundou em Cachoeiro um jornal que existe até hoje – o “Correio do Sul”.

Fui convidado a escrever alguma coisa, o que também aconteceu com meu irmão Newton, que fazia principalmente poemas.

Eu escrevia artigos e crônicas sobre assuntos os mais variados; no verão mandava da praia de Marataizes uma crônica regular, chamada “Correio Maratimba”.

Quando fui para o Rio (na verdade para Niterói) por volta dos 15 anos, mandava correspondência para o Correio.

Continuei a fazer o mesmo em 1931, quando mudei para Belo Horizonte.

A essa altura meu irmão Newton trabalhava na redação do “Diário da Tarde” de Minas.

Em começo de 1932 ele deixou o emprego e voltou para Cachoeiro; herdei seu lugar no jornal.

Passei então a escrever diária e efetivamente, e fui aprendendo a redigir com os profissionais como Octavio Xavier Ferreira e Newton Prates.

Quando terminei meu curso de Direito, resolvi continuar trabalhando em jornal.

Fazia crônicas, reportagens e serviços de redação.

Ainda em 1932 tive uma experiência bastante séria: fui fazer reportagem na frente de guerra da Mantiqueira missão aventurosa porque a direção de meu jornal era favorável à Revolução Constitucionalista dos paulistas, e eu estava na frente getulista.

Acabei preso e mandado de volta.

A essa altura eu já era um profissional de imprensa, e nunca mais deixei de ser.


(texto extraído do livro “Para Gostar de Ler - Volume 4 – Crônicas”, Editora Ática – São Paulo, 1980, pág. 4)

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